Acerca de mim

A minha foto
Viva o presente, e faça tudo o que você quer fazer. Pare de viver a vida em função de um futuro, que você não sabe se vai existir!*

Seguidores

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

"Podias ter-me dito que ias sair da minha vida. Abria-te a porta e dizia-te adeus, como se faz a um velho amigo que vive noutro país e vem visitar-nos uma vez por ano. Dava-te um longo e quase triste abraço e pedia às estrelas que te protegessem ao longo de todas as viagens até ao fim da vida.
Podias ter-me escrito uma carta, um e-mail, uma mensagem. Podias ter mandado um ramo de flores ou uma caixa de sementes com um cartão a dizer desculpa. Eu teria perdoado porque não há nada para perdoar. A paixão é mesmo isto, nunca sabemos quando acaba ou se transforma em amor, e eu sabia que a tua paixão não iria resistir à erosão do tempo, ao frio dos dias, ao vazio da cama, ao silêncio da distância.
Há um tempo para acreditar, um tempo para viver e um tempo para desistir, e nós tivemos muita sorte porque vivemos todos esses tempos no modo certo.
E agora que o Inverno se instalou, espero pacientemente que as sementes resistam ao frio e encham o meu jardim de cores e de cheiros quando a Primavera chegar. Imagino que me escondo debaixo da terra com elas, são muitas e pequenas, mas guardam a essência da vida, e a felicidade é isto: plantar o que sentimos e esperar, deixar correr os dias até passarem semanas, e aguardar que estas se alinhem em meses, ser paciente, não cobrar nem desistir, seguir em frente e desejar o melhor do mundo aqueles que amamos.
Podias-me ter dito que querias conjugar o verbo desistir. Não sei como se diz desistir na tua língua nem quero aprender, porque na minha demorei muito tempo a aceitar que, às vezes, desistir é o mesmo que vencer sem travar as batalhas. Antigamente pensava que não, que quem desiste perde sempre, que a subtracção é a arma mais cobarde dos amantes, e o silêncio a forma mais injusta de deixar fenecer os sonhos. Mas a vida ensinou-me o contrário. Hoje sei que desistir é apenas um caminho possível, às vezes o único que os homens conhecem.
Sei que também aprendeste muito comigo, mais do que imaginas e do que agora consegues alcançar. Só o tempo te vai dar tudo o que de mim guardaste, esse tempo que é uma caixa que se abre ao contrário: de um lado estás tu, e do outro estou eu, a ver-te sem te poder tocar, a abraçar-te todas as noites antes de adormeceres e a cada manhã que acordares."

Tudo isto porque: "Tento esquecer-te. Deixei de falar de ti e de dizer o teu nome, deixei de o desenhar no espelho da casa de banho, quando o vapor inunda todas as superfícies. Em vez disso, tenho o coração embaciado de dúvidas e o olhar desfocado pelo absurdo do teu silêncio continuado, o olhar de quem aprende a adaptar-se a uma luz desconhecida, a uma nova realidade. O tempo não sabe nada, o tempo não tem razão, porque ele não cura todos os males nem apaga todas as dores.
"Deixei de sonhar com a tua presença na minha vida.", mas a verdade é que: "Há amores que nunca morrem, não há?", mesmo que isso resulte numa: "dor que ficou no peito, que dói e que dura."
No entanto esses mesmo amores que nos deixam uma dor no peito, podem também fazer-nos sorrir, passado algum tempo, e nessas alturas:
"É só deixar correr, como, afinal, tudo o que é verdadeiramente importante na vida."

(Excerto do livro "Vou contar-te um segredo" da escritora Margarida Rebelo Pinto.)

Excerto mais certo não poderia haver. *

Sem comentários:

Enviar um comentário